Na semana passada comprei dois livros. Ambos me chamaram a atenção por motivos distintos: um pela história de luta e o outro pelo título. "As Filhas da Princesa" de Jean P. Sasson conta a história das filhas da princesa da Arábia Saudita, Sultana (o nome verdadeiro da princesa e de todos relacionados no livro não são divulgados para preservar a "vida" da princesa e dessas pessoas) e os obstáculos que elas enfrentam diariamente pelo simples fato de serem mulheres.
O livro, narrado pela própria princesa, traz relatos tristes e surpreendentes sobre a vida das mulheres da Arábia Saudita e o quanto ainda precisa ser feito para mudar essa realidade. Sultana tenta guiar as duas filhas, Maha e Amani, na descoberta de suas personalidades e no modo como devem lidar com sua fé. Maha passa por momentos intensos de descoberta ao se deparar com a verdadeira sociedade em que vive e passa a desejar, assim como a mãe, uma vida digna para as mulheres muçulmanas.
Amani, após a Haj (peregrinação anual a Meca) passa a ler o Corão (livro sagrado dos muçulmanos) diariamente e a inspecionar desde os membros da família até os empregados. Esse fato acaba gerando inúmeras brigas dentro de casa e machuca ainda mais o coração de Sultana que sempre lutou a favor da liberdade das mulheres. Ver a filha se posicionar e passar a pensar como os fervorosos que levam o corão ao pé da letra, Sultana começa a se questionar sobre sua luta e se um dia conseguiria vencer.
Aqui vai um trecho que me deixou bastante triste (sobre circuncisão feminina):
"(...) Mas existe ainda um outro método mais bárbaro e perigoso
de circuncisão feminina, chamado faraônico. Eu não conseguia nem
imaginar a dor das mulheres submetidas ao terrível ritual. Nesse
processo extremo, findo o procedimento, a adolescente vê-se sem
o clitóris, os pequenos lábios e os grandes lábios. Se tal operação fosse
realizada em um homem, tratar-se-ia da amputação do pênis e
do escroto ao redor dos testículos.
Como práticas tão brutais podiam prevalecer na época atual?!
Na Arábia Saudita, muito já se conseguiu no sentido de
eliminar a tradição, e a maioria das mulheres já não passa
pela terrível experiência. Os homens de minha família já
proibiram os ritos pagãos, mas descendentes de africanos no
país ainda se arriscam à punição mantendo a tradição,
crentes de que somente a redução do prazer sexual pode
garantir a castidade da mulher. "
Esse é um dos tantos trechos do livro que me chocaram e me mostraram o quanto as mulheres sofrem nesse país. Rima, uma das irmãs de Sultana, foi molestada pelo marido após se negar a ter relações com ele por estar menstruada. Segundo o Corão, um homem não pode tocar uma mulher durante o período menstrual já que ela estaria "suja". Revoltado o marido dela a espancou e a estuprou em uma "região do corpo não permitida ao marido", o ânus. O ataque foi tão forte que ela precisou usar uma bolsa de colostomia pelo resto da vida.
O pior de tudo é que Rima não pode pedir o divórcio por dois motivos: 1 - Os filhos ficariam com o marido, como manda a lei. 2 - Para uma mulher ganhar o direito de se divorciar seria feita uma investigação para apurar os acontecimentos e mesmo assim as chances de vitória são minúsculas. "As Filhas da Princesa" é um livro forte e ajuda a entender a vida na Arábia Saudita. Recomendo!
O outro livro se chama "Marina" e é do autor Carlos Ruiz Zafón. Nem preciso comentar que foi o título que me chamou atenção. Acabei de começar a ler e já me deparei com uma frase que diz exatamente o que é a minha vida: "Marina me disse um dia que a gente só se lembra do que nunca aconteceu". Isso faz sentido pra todos os sonhos que tenho de lugares onde nunca estive e que nem sei onde ficam mas os conheço muito bem. Posso sentir o cheiro, a atmosfera, a sensação de estar lá. São sonhos tão verdadeiros que me fascinam por dias.
Lugares que podem ter feito parte de vidas passadas e que insistem em se mostrar para mim. Um dia com certeza entenderei o sentido desses sonhos e conhecerei esses lugares. Contarei mais detalhes desse livro nas próximas postagens, a medida que for descobrindo mais coisas.
Um abraço bem forte e obrigado por continuarem comigo :)
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